4. Framework estratégico do duplo diamante adaptado ao jornalismo
- suzanahrsouza
- 28 de nov.
- 4 min de leitura
O jornalismo trabalha todos os dias com uma mistura de urgências e complexidade: mudanças nos modelos de receita, queda de audiência, excesso de plataformas, pressão por rapidez, escassez de recursos e a necessidade constante de manter rigor editorial.
Nesse cenário, encontrar um processo que traga clareza, ordem, foco e que ainda funcione em equipes pequenas se torna essencial.
A mudança da mentalidade com uma visão de agilidade é o pontapé inicial. O processo é o passo seguinte.
É nesse contexto que olhamos para o conceito do duplo diamante, do design thinking, como uma abordagem capaz de organizar esse caos sem engessar a rotina.
Por que começar pelo design thinking
Design Thinking é uma abordagem para resolver problemas complexos partindo sempre do mesmo ponto de partida: entender profundamente as pessoas envolvidas.
É uma visão focada em investigação, empatia e observação antes de qualquer solução. Escutar mais, perguntar mais e criar respostas sustentadas por evidências e não por achismos.
Ele funciona porque valoriza:
colaboração real;
empatia pelo usuário;
experimentação constante;
ciclos curtos;
prototipagem rápida;
e ajustes contínuos.
Contextualizar, explicar, interpretar e escolher formatos são movimentos de entender o usuário e entregar valor. O que nos leva a entender como design thinking sempre teve muito a ver com o jornalismo.
O design thinking coloca no centro a lógica de que não adianta criar soluções antes de entender o problema.
É essa forma de pensar que sustenta o duplo diamante, o framework visual que organiza esse processo.
Por que o duplo diamante funciona no jornalismo
O duplo diamante divide o processo em duas grandes fases divergentes e duas fases convergentes para:
Entender o problema profundamente
Definir o foco
Criar soluções possíveis
Testar e validar a solução certa
No jornalismo independente, ele faz sentido porque:
leva em conta a complexidade dos problemas que enfrentamos;
começa sempre pelo usuário e suas necessidades reais;
reduz desperdício de tempo e energia, fundamental em equipes pequenas;
estimula prototipar e testar antes de investir;
cria clareza e priorização em meio ao caos;
aumenta as chances de impacto editorial e sustentabilidade financeira.

Primeiro diamante: investigar profundamente e priorizar oportunidades
O primeiro diamante é a fase de imersão total no problema. Aqui, abrimos espaço para observar, pesquisar, perguntar, analisar e mapear dores, sem pressa para pular para soluções.
Fase zero: stakeholders e contexto
Antes de abrir qualquer ferramenta, começamos entendendo:
quem toma decisões,
quem será afetado,
quem pode acelerar ou bloquear o processo,
e quais áreas precisam estar por perto.
Esse passo previne desalinhamentos e dá clareza sobre o terreno em que estou pisando.
Etapa 1: imersão e pesquisa (apurar)
Aqui, mergulhamos na perspectiva do usuário e nos objetivos do negócio.
É o momento em que o jornalismo e o design thinking se encontram: investigar primeiro, decidir o que fazer depois.
Ferramentas que usamos nesta etapa:
Desk research: para explorar o que já existe; entender o comportamento de consumo, benchmarks, tendências.
Matriz CSD (Certezas, Suposições, Dúvidas): organiza o que sabemos e o que precisamos descobrir.
Entrevistas iniciais: conversas abertas com usuários que serão seu público-alvo.
Personas: perfis realistas que representam segmentos-chave do público.
Etapa 2: transformar insights em oportunidades (definir)
Depois de mergulhar no problema, começamos a convergir. Aqui, transformamos a pesquisa em foco.
Ferramentas centrais:
Matriz Esforço vs Impacto: ajuda a priorizar onde investir energia.
HMW (How Might We): perguntas que transformam problemas em possibilidades.
Proposta de valor: a frase que resume o que estamos resolvendo, para quem, e por quê.
Essa etapa gera a primeira árvore de oportunidades, conectando todo o aprendizado da pesquisa aos problemas prioritários.
Segundo diamante: gerar ideias, prototipar e testar
Agora que sabemos qual é o problema, podemos começar a criar soluções, mas sem apego a uma única ideia.Esta fase é sobre explorar possibilidades, experimentar, prototipar e ajustar rapidamente.
Etapa 3: ideação (produzir)
Aqui, voltamos a divergir: abrimos espaço para a criatividade, a colaboração e a experimentação.
As ferramentas que usamos são:
Categorização de ideias
Matriz Esforço vs Impacto (de novo) para selecionar com critério
Essa etapa gera a árvore de hipóteses: o conjunto de caminhos possíveis para resolver o problema.
Hora de priorizar e afunilar
Entre idear e prototipar, preciso escolher a ideia com mais potencial. E, para isso, uso ferramentas mais criteriosas:
Matriz ICE (Impacto, Confiança, Esforço)
Definição do MVP (a versão mais simples que você pode lançar, mas que ainda entrega valor)
Definição das métricas (o que vou medir? por quê? com qual frequência?)
Etapa 4: prototipar, testar e validar (editar e distribuir)
Aqui, voltamos a convergir.Construímos a versão mínima, colocamos na mão do usuário, observamos, medimos e ajustamos.
Testes podem ser de:
usabilidade
protótipos de baixa fidelidade
pilotos rápidos
experimentos com pequenos grupos
entrevistas pós-teste
análises de métricas em ciclos curtos
Essa etapa conecta design thinking à agilidade: testar pequeno, aprender rápido e ajustar com base em evidências.
Por que esse processo funciona para o jornalismo independente
O duplo diamante, adaptado à realidade das redações, se torna uma bússola, um caminho claro e aplicável para investigar melhor, criar melhor e entregar soluções que fazem sentido para o público e para o jornalismo que queremos sustentar.

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