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5. A IA no duplo diamante. E como ela acelera cada etapa

  • Foto do escritor: suzanahrsouza
    suzanahrsouza
  • há 1 dia
  • 6 min de leitura

Se o duplo diamante nos deu um processo claro para investigar, definir, criar e testar soluções, a IA entra como um multiplicador de capacidade. 


Ela não substitui nenhuma decisão editorial, mas ajuda a chegar mais rápido em etapas que antes dependiam de muitas horas de esforço manual — especialmente em equipes pequenas, com acúmulo de funções e pouco tempo disponível.

A lógica central continua sendo a mesma: valor para o usuário no centro, responsabilidade editorial como base e IA como ferramenta de apoio.


Definição de princípios para o uso ético da IA


Como vimos nas pesquisas iniciais do Krisis Lab, o uso de IA já é uma realidade nas redações e acontece de forma espontânea, descentralizada e, muitas vezes, sem diretrizes claras. Esse movimento traz oportunidades importantes, mas também aumenta a responsabilidade das organizações em definir como, quando e por quê a IA deve ser utilizada.


Assim como cada redação tem sua própria linha editorial, cultura de trabalho e modelo de operação, também é necessário construir políticas específicas de uso de IA que reflitam seus valores, seus limites e seus contextos. 


Incentivamos que cada organização desenvolva seus próprios parâmetros transparentes, revisáveis e adaptados à sua realidade.


Diversos veículos já criaram guias públicos que podem servir de referência:


  • Núcleo Jornalismo: publicou um guia em maio de 2023 com limites de usos permitidos na organização

  • Estadão: lançou uma política institucional de uso de IA em novembro de 2023, na qual estabelece regras como revisão obrigatória por humanos antes da publicação de qualquer texto gerado com IA

  • Associated Press: o guia da agência de notícias estabelece a proibição do uso do ChatGPT para criação de conteúdo publicável e define que o jornalista segue responsável pela precisão e imparcialidade das informações

  • The New York Times: o jornal norte-americano formalizou em maio de 2024 seus princípios de IA generativa. O texto estabelece que qualquer uso de IA deve começar com informações verificadas pelos repórteres e será revisado por editores humanos


Esses documentos mostram caminhos possíveis. Todos eles têm em comum a premissa de que a IA não substitui responsabilidade editorial, nem a verificação humana.

No contexto específico do desenvolvimento de produto no jornalismo, também é importante partir dessa premissa e criar parâmetros para a utilização da IA. 


Abaixo, apresentamos uma sugestão inicial de princípios gerais, que podem servir como ponto de partida para a construção de políticas específicas em cada redação:


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Esses princípios funcionam como um convite para que cada redação transforme essas diretrizes em políticas vivas, revisadas regularmente e alinhadas à sua missão editorial. 


Aplicando a IA


Feita a reflexão sobre a importância da criação de uma política de IA, vamos ao mapeamento sobre onde a IA faz diferença no desenvolvimento de produto no jornalismo e como pode ajudar em cada fase do framework.


Fase zero: stakeholders e contexto


Como a IA ajuda

  • Organiza e sintetiza informações sobre stakeholders coletadas em pesquisas, documentos ou entrevistas internas.

  • Cria resumos e mapas iniciais de influência (ex.: quem toma decisões, quem é afetado, quem precisa ser alinhado).


Por que é útil: Em redações pequenas, costuma faltar clareza sobre papéis e responsabilidades. A IA ajuda a criar uma visão inicial rápida, para que o time possa partir de uma estrutura organizada para validação.


Etapa 1: imersão e pesquisa (apurar do produto)


Aqui, a IA se torna uma aliada especialmente importante porque grande parte dessa etapa envolve coleta, organização e síntese de informações.


1. Desk research


Como a IA apoia

  • Gera resumos de relatórios e apoia em pesquisas públicas, que sempre devem ser validadas por humanos

  • Identifica padrões, tendências e temas recorrentes

  • Cria tabelas comparativas e sínteses para validação


Por que é útil: reduz drasticamente o tempo de leitura inicial, liberando energia para a interpretação profunda, a parte que só o jornalismo pode fazer.


2. Matriz CSD (Certezas, Suposições, Dúvidas)


Como a IA apoia

  • Reorganiza dados brutos em categorias C-S-D

  • Aponta inconsistências ou lacunas

  • Ajuda a transformar suposições em perguntas de pesquisa


Por que é útil: a matriz CSD costuma travar times sem prática em produto. A IA ajuda a estruturar o pensamento, mas é o time que decide o que é fato e o que ainda é suposição.


3. Entrevistas com usuários 


Como a IA apoia

  • Transcreve entrevistas 

  • Organiza e agrupa falas por temas

  • Cria sínteses iniciais por tópico, dor ou oportunidade

  • Ajuda a identificar padrões de comportamento


Cuidados: a análise inicial da IA poupa tempo na geração inicial de insights. Porém é importante lembrar que ela não interpreta emoção, contexto cultural ou nuances editoriais. 


4. Personas


Como a IA apoia

  • Transforma dados de entrevistas/banco de dados e pesquisas em rascunhos de personas a serem validados

  • Gera versões alternativas para comparação

  • Ajuda a validar se a persona é consistente


Cuidados: como sabemos, a IA tem vieses que podem aparecer na hora de criar padrões de comportamento e sugestões de personas. Por isso, deve-se considerar a versão inicial da inteligência artificial como algo a ser lapidado e corrigido pelo olhar humano. 


Etapa 2: transformar insights em oportunidades (definir)


1. Matriz Esforço vs. Impacto


Como a IA apoia

  • Ajuda a estimar esforço técnico ou editorial com base em experiências similares

  • Gera visualizações rápidas

  • Sugere critérios de priorização


Por que é útil: priorizar com clareza é o passo mais importante para não desperdiçar energia. A IA entra como uma sugestão inicial a ser validada com a equipe, que é quem de fato vai desenvolver a solução.


2. HMW — How Might We


Como a IA apoia

  • Ajuda a converter dores em perguntas “como podemos…”

  • Gera múltiplas versões para discussão do time

  • Ajuda a destravar a visão criativa


Por que é útil: a IA, mais uma vez, atua como ponto de partida para decisões.

Um exemplo prático: ao constatar que a seguinte hipótese é verdadeira,“Os leitores não conseguem acompanhar notícias longas no celular”, a IA consegue destrinchá-la em perguntas para serem discutidas em equipe:

  • “Como podemos aumentar a compreensão em telas pequenas?”

  • “Como podemos adaptar longform para consumo fragmentado?”

  • “Como podemos reduzir fricção na leitura mobile?”


3. Proposta de valor


Como a IA apoia

  • Gera versões iniciais

  • Ajuda a comparar mensagens

  • Resume argumentos


Cuidados: aqui vale lembrar que a essência editorial é humana. A IA não decide o propósito do produto, apenas ajuda a articulá-lo.


Etapa 3:  ideação (produzir)


1. Brainstorming estruturado


Como a IA apoia

  • Gera listas iniciais de possibilidades

  • Amplia repertório

  • Cria analogias com outros setores


Por que é útil: a IA serve para destravar o processo e dar o pontapé inicial na discussão das equipes, principalmente para aquelas que não têm tanta experiência com desenvolvimento de produtos. 


2. Categorização


Como a IA apoia

  • Organiza ideias em clusters temáticos

  • Agrupa conceitos

  • Sugere relações que o time pode avaliar


Por que é útil: proporciona uma visão inicial mais clara, mais rápida e menos caótica.


Agora, chegamos a outro momento do processo de ideação em que é necessário fazer uma priorização e decisão da solução. Neste momento, a IA pode ajudar com:


1. Matriz ICE


Como a IA apoia

  • Gera estimativas iniciais de Impacto, Confiança e Esforço


Por que é útil: times pequenos podem subestimar esforço e impacto na hora de realizar as atividades de desenvolvimento. A IA atua, mais uma vez, como um primeiro passo nas estimativas a serem refletidas pelo grupo. 


2. MVP


Como a IA apoia

  • Faz sugestões sobre “o mínimo que precisa existir” para que a solução funcione

  • Pode ajudar na criação de fluxos e jornadas do usuário

  • Sugere caminhos de simplificação


Cuidados: ao usar a IA para pensar sobre o MVP de uma solução, é necessário afinar ao máximo o prompt que será utilizado, para que a ferramenta entenda da melhor maneira o contexto com o qual se está trabalhando. Por isso, é relevante adicionar o máximo de informações possíveis, da maneira mais organizada que você conseguir. 


3. Definição de métricas


Como a IA apoia

  • Sugere métricas específicas para o tipo de produto

  • Traduz métricas complexas em explicações compreensíveis


Por que é útil: a criação de métricas é uma parte essencial no processo de desenvolvimento de produto por cria os parâmetros para o acompanhamento da solução. Sem métricas bem definidas e metas factíveis, não é possível entender se o produto está dando certo (seja qual for o seu contexto) ou não. 


Sabemos que no contexto das redações independentes, muitos veículos não trabalham diretamente com OKRs e KPIs. Nesse sentido, a IA pode atuar como um gerador de sugestões para um primeiro passo na mudança cultural da organização.


Etapa 4: prototipar, testar e validar (editar e distribuir)


Aqui entra uma das partes em que a IA mais acelera o processo de desenvolvimento de produto.


1. Prototipação


Como a IA apoia

  • Criação de wireframes

  • Idealização de fluxos de telas

  • Rascunhos de interfaces

  • Exemplos de possíveis caminhos editoriais

  • Simulações do produto em uso


Cuidados: isso tudo deve ser feito apenas no ambiente de teste. O julgamento final ainda deve ser humano e nada deve tornar-se público sem o aval da equipe.


2. Testes de usabilidade


Como a IA apoia

  • Analisa transcrições

  • Agrupa feedback por temas

  • Ajuda a identificar padrões

  • Sugere hipóteses de melhoria


Por que é útil: assim como na pesquisa com usuário, a IA poupa o tempo inicial na geração de insights dos testes de usabilidade e ajuda a equipe a entender quais são os pontos de atenção para melhoria da solução.

 
 
 

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